Novo Livro


Eu Tenho um Recado para Você
Escritor recifense se inspira na famosa cartomante do Recife Irmã Marlene
para criar suspense sobre intuição, crimes e misticismo
Eu Tenho um Recado para Você, de Tito Bela Vista, será lançado na Bienal do
Livro de Pernambuco, no Centro de Convenções, no dia 12 de outubro
“Trago seu amor em 24 horas” se tornou uma promessa incorporada à paisagem urbana do Centro do Recife através da onipresença da frase em cartazes publicitários da Irmã Marlene colados em postes, muros e paredes da cidade. A garantia sentimental ofertada a corações despedaçados dos transeuntes mediante a contratação dos serviços da taróloga agora também integra o conjunto de referências místicas, memoriais e sensoriais usadas como inspiração pelo escritor recifense Tito Bela Vista para escrever Eu Tenho um Recado para Você (Arteriê Editorial), obra com lançamento previsto para o dia 12 de outubro, durante a Bienal do Livro de Pernambuco, com prefácio assinado por Carlos Maltz, astrólogo e baterista do Engenheiros do Havaí.
O livro ambienta, entre o Recife e a Olinda dos anos 1990, uma ficção embalada por sonhos e reminiscências de infância sobre as decisões de uma cigana insone e atordoada por conta de um pesadelo repetitivo, misterioso e, em boa medida, profético. A trama acompanha os desdobramentos da tentativa desesperada dela de se livrar definitivamente desses pensamentos involuntários noturnos e as estranhas conexões com a sucessão de fatos reais enredados em situações de violência, criminalidade, abusos e sobrenaturalidade. A narrativa embute um diálogo permanente acerca da relação do ambiente onírico com a vida cotidiana a partir da influência de aspectos místicos ou inconscientes sobre o arbítrio dos personagens - seja com base em crenças, cultura, medos e labirintos da mente.
A alusão a aspectos associados à tradição cigana - rituais, interpretações, resoluções - acrescenta à história um olhar peculiar sobre um segmento urbano nem tão comumente referenciado e adorna com misticismo o mosaico imaginativo montado pelo autor para compor a obra.
O escritor costura a trama do livro a recordações de momentos distintos e marcantes da vida, tanto na fase da infância quanto nos primeiros passos profissionais, com garimpagem entre impressões associadas à origem em um bairro da periferia da capital. “Cresci no Curado 4, ainda hoje um bairro violento. Muitos dos meus amigos acabaram presos ou assassinados. Na época, um dos caras que havia - talvez o mais perigoso que conheci - matava gatos na nossa frente para nos intimidar; a gente sempre fazia de tudo para se manter longe dele quando éramos crianças. No livro, conservei o nome: Luciano “Cruel”. Na rua, tínhamos lido no jornal que ele havia sido preso por matar um delegado”, diz Tito Bela Vista, sobre um dos personagens marcantes da obra.
O processo de redação do livro, diz o autor, durou o inverno de 2007, com períodos de reclusão no quarto e escrita à mão. Os personagens foram todos desenhados para dar contornos visuais aos perfis incluídos na ficção. “Passava horas escrevendo, errando, apagando com uma borracha de duas cores (azul e vermelha). Naquele inverno, choveu muito. Sempre gostei de criar, então não havia outra opção”, recorda o autor.
As percepções de criança e adolescente se misturaram às reflexões adultas sobre o primeiro contato com o “oculto” sugerido por ciganos acampados perto do posto de vigilância na Marinha onde servia, à apreensão dos elementos místicos e religiosos presentes no clipe Tudo Tem Sentido, da banda Devotos (do Ódio, à época), e à inquietude literária com o livro O Caçador de Pipas para gerar Eu Tenho um Recado para Você. “Um cigano me aconselhou a buscar o oculto para entender melhor minha situação após a baixa da Marinha. Depois de um tempo, segui os cartazes na rua que me levaram até a Irmã Marlene, uma figura que explicava tudo com muitas metáforas”, diz ele sobre a figura real transposta para a personagem da cartomante Magdala.
O aspecto sobrenatural impregnado no livro também ecoa, segundo o autor, a realidade da busca por resolução de problemas rotineiros em sociedades sem acesso amplo a canais de autoconhecimento proporcionados por serviços de saúde mental, como psicologia ou psiquiatria. “Para o homem e a mulher da periferia pobre, principalmente na década de 1990, não fazia muito sentido procurar um psicólogo ou tentar se entender a partir de alguma ciência. Faltava essa clareza. Então, para lidar com as próprias questões, entender o outro, ficar atento às oportunidades ou aos perigos, muitas vezes se recorria à intuição — algo que é naturalmente trabalhado nos espaços espirituais, como centros espíritas, terreiros de candomblé, igrejas cristãs. Essas instituições ainda hoje cumprem esse papel, muitas vezes estimulando as emoções e fortalecendo a intuição”, observa.
A escolha atravessada por palpites define as ações dos personagens do livro apresentadas de forma direta, clara, mesmo nas incursões subjetivas, em uma progressão de atos e consequências convergentes para um ponto de clímax onde aspectos reais e sobrenaturais fazem, finalmente, um acerto de contas - da narrativa com a inspiração, do passado com a literatura, da desconfiança com a intuição. “A intuição, na verdade, tem muito mais a ver com nossos sentidos e percepções, como aponta a neurociência. Mas a ciência ainda está distante da realidade cotidiana de muitas pessoas nas periferias. Além disso, existe uma ligação histórica entre o ser humano e a busca por sentido nas próprias percepções: desde os tempos antigos, isso passa por figuras como xamãs, líderes religiosos, gurus”, diz Tito.
No livro, a cartomante Magdala é impulsionada pelo desafio de agir sob comandos intuitivos para se libertar de angústias persistentes e modificar o mundo à volta, um espelho literário dos aflitos à procura de ressignificações de vida pela intervenção de figuras como a Irmã Marlene - e ambas representações de uma fração da sociedade real cujo destino é atiçado, não raramente, pela curiosidade e pelas sinuosidades do acaso, da dedução e da confiança no instinto de cada dia. A todos, cai bem a leitura da isca: Eu Tenho um Recado para Você.
Tito Bela Vista
Nascido no Recife, é historiador, professor, especialista em gestão e pensador de políticas educacionais. É diretor-executivo da Assessoria em Educação SOP - Sala de Orientação Pedagógica - e fundador e mentor do Coletivo Wolbits Tecnologia para Educação. Tito também é músico e compositor. O escritor é autor de Tudo que eu Faço Tem um Porquê (2022), 10 Contos de Vida ou Morte (coletânea de contos entre 2011 e 2015) e O Jardim dos Cactos (2002).
SERVIÇO
Lançamento: Eu Tenho um Recado para Você ou o acordo flutuante entre o acaso e o destino
(Artêra Editorial, 50 páginas)
Quando: 12 de outubro, na Bienal do Livro de Pernambuco, no Centro de Convenções
(Avenida Professor. Andrade Bezerra, s/n - Salgadinho, Olinda)
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